Rodney Dias dos Santos vai ser julgado como autor das mortes. Policial Walter Pereira da Silva foi impronunciado pela Justiça em 2017 e não será julgado.
Gilvan Silva:
O ex-policial militar Rodney Dias dos Santos vai ser julgado no Tribunal do Júri na manhã desta quarta-feira (23), no Fórum da Barra Funda, em São Paulo, como autor da chacina com oito mortos, na sede da torcida organizada corintiana Pavilhão Nove. O crime aconteceu em 18 de abril de 2015.
O júri será presidido pela juíza Giovanna Christina Colares, da 5ª Vara do Júri de São Paulo. O outro réu no caso, o soldado da Polícia Militar Walter Pereira da Silva, respondia ao processo em liberdade. Em 13 de dezembro de 2017, ele foi impronunciado pela Justiça.
De acordo com o Código de Processo Penal, a impronúncia é a decisão tomada pelo juiz quando considera que não há provas da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação do réu para levá-lo a julgamento no Tribunal do Júri.
Com essa medida, o processo foi desmembrado. O Tribunal de Justiça, no entanto, não esclareceu se Walter será julgado em um segundo momento ou se já pode ser considerado inocente do crime.
Como foi a chacina
De acordo com o Ministério Público, o crime foi cometido por desavenças e ameaças entre um dos executores e uma das vítimas. Além de serem dirigentes da Pavilhão, eles disputavam pontos de tráfico de drogas na Zona Oeste da capital.
Os demais sete torcedores foram mortos com tiros na cabeça porque reconheceram os atiradores. Um corintiano conseguiu fugir e um faxineiro foi poupado pelos criminosos. Com o depoimento deles, a Polícia Civil chegou às identidades dos assassinos. Imagens de câmeras de segurança gravaram parte da ação criminosa.
O ex-policial militar cumpre prisão preventiva desde 7 de maio de 2015 no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros. O policial militar chegou a ser preso pela PM, mas foi solto em 7 de dezembro de 2015, passando a responder ao processo em liberdade.
Ainda de acordo com o Ministério Público, os dois são acusados de entrar na sede da Pavilhão com mais um atirador. Os três, segundo testemunhas, mandaram Fábio Neves Domingos, ex-presidente da torcida e desafeto declarado de Rodney, se ajoelhar com mais sete outros torcedores na quadra.
Em seguida, o trio de atiradores disparou nas nucas de cada uma das vítimas. Além de Fábio, de 34 anos, foram mortos: Ricardo Junior Leonel do Prado, 34; Andre Luiz Santos de Oliveira, 29; Matheus Fonseca de Oliveira, 19; Jhonatan Fernando Garzillo, 21; Marco Antônio Corassa Junior, 19; Mydras Schmidt, 38; e Jonathan Rodrigues do Nascimento, 21.
“Os assassinos agiram como os executores do Estado Islâmico, com as vítimas rendidas, ajoelhadas e mortas com tiros na cabeça”, afirmou ao G1 o promotor Rogério Leão Zagallo.
Oito pessoas morrem depois de serem baleadas na sede da Pavilhão 9, na Ponte dos Remédios, em São Paulo, SP, na noite deste sábado (18) — Foto: Edison Temoteo/Futura Press/Estadão Conteúdo
O promotor já havia antecipado ao G1 que as provas contra o policial não eram fortes o suficientes para levá-lo a júri popular. “A prova contra o Rodney é muito boa, mas a prova contra Walter é fraca”, disse Zagallo. “É possível que ele seja até inocente”.
Segundo a acusação, testemunhas confirmaram a rixa interna na Pavilhão entre Fábio e Rodney, que assim como a vítima, também chegou a ser presidente da organizada. Relataram ameaças de morte entre eles.
Walter, porém, não foi reconhecido pelo faxineiro poupado pelos atiradores e pelo corintiano sobrevivente que escapou. O responsável pela limpeza teria saído vivo da quadra porque era conhecido de Rodney. O torcedor é uma das testemunhas protegidas no processo.
A ligação entre o policial e Rodney seria o fato de que os dois foram vistos uma vez numa festa da Pavilhão antes do crime. Além disso, a defesa de Walter anexou ao processo um vídeo que mostra o policial chegando de carro no seu condomínio momentos antes da chacina e não saindo mais de lá.
O G1 não conseguiu localizar os defensores do policial e do ex-policial para falar sobre o julgamento.
Por Glauco Araújo, G1 SP — São Paulo