Homicídios reduzem durante série de ataques criminosos no Ceará

Média diária de mortes violentas cai pela metade. “Pacto” entre facções criminosas para atacar o Estado e reforço do policiamento ostensivo, para frear ataques, são apontados como causas para a queda de assassinatos

Gilvan Silva.

Os anos de 2017 e 2018 foram os piores da história do Estado, em número de homicídios. A guerra entre facções criminosas impulsionou os crimes contra a vida, e a população cearense se acostumou com uma média diária de ocorrências letais formada por um número de dois dígitos, mês após mês. Os primeiros dias de 2019, entretanto, fogem da tendência dos últimos anos.

Entre os dias 1º e 8 de janeiro do ano corrente, 59 pessoas foram vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) – homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte – conforme dados não consolidados dispostos no site da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). A média de ocorrências é de sete mortes por dia (7,3 mais precisamente).

Para o sociólogo, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), César Barreira, a redução tem relação com a série de ataques criminosos que atinge o Estado desde o dia 2 de janeiro e, ontem, chegou ao 10º dia e a um total de 190 ocorrências.

Em uma semana, entre 2 e 8 de janeiro, foram 52 mortes, o que mantém a média diária de 7 crimes (7,4 precisamente). Em igual período do ano passado, foram 109 assassinatos – 15,5 por dia. A redução da média diária, de um ano para outro, foi de 52,2%.

O ano de 2018 teve ao menos 4.500 CVLIs, conforme números parciais da SSPDS; o balanço final ainda será divulgado. Até então, a média foi de 12,3 homicídios por dia – longe da média apresentada em 2019.

A série de ataques a veículos e equipamentos públicos e particulares foi ordenada por líderes de facções que atuam no Ceará, insatisfeitos com as mudanças previstas no sistema penitenciário cearense. Barreira afirma que o “pacto” entre os grupos criminosos para atacarem o Estado é um dos fatores que reduziram drasticamente os registros de homicídios, nos primeiros dias deste ano.

“As facções estão mais voltadas para os ataques. Hoje, o inimigo das facções é o Governo. E é o inimigo porque está agindo forte. Diferente de outros momentos, em que há confrontos entre esses grupos criminosos por territórios para o tráfico de drogas”, explica Barreira.

Policiamento

Outras causas para a queda dos homicídios, apontadas pelo sociólogo, também estão atreladas à série de ações criminosas. Uma delas é que a onda de violência trouxe o reforço de 406 homens da Força Nacional, além de policiais rodoviários federais e PMs da Bahia, Pernambuco, Piauí e Santa Catarina, para a Segurança Pública do Ceará. E os policiais civis e militares locais estão trabalhando horas extras, para conter a ousadia das facções.

“Tem mais policiais nas ruas. Hoje, todos os profissionais da Segurança Pública estão mais atentos. Quando você fiscaliza uma possibilidade de um atentado, você evita outras situações. Apesar de estarem preocupados com outra coisa, também estão olhando para o geral”, analisa César Barreira. O pesquisador ainda acrescenta que parte da população está trancada em casa, com medo dos tiroteios, incêndios e explosões que estremecem em todo o Estado. E a maioria dos homicídios ocorre em vias públicas, principalmente em locais de convivência e entretenimento.

Inteligência

As estratégias de diminuição de homicídios, elaboradas pela SSPDS, também são lembradas por Barreira como um fator para a queda das mortes. Para ele, o Estado se esforça em deslocar efetivo ostensivo para áreas onde há mais homicídios e se utiliza da Inteligência para também evitar esses crimes.

Desde março de 2018, a Pasta tem conseguido apresentar redução de Crime Violentos Letais Intencionais, em comparação com períodos iguais do ano anterior. Questionada, a Secretaria da Segurança Pública não se posicionou sobre o assunto até o fechamento desta edição.

Fonte: Diário do Nordeste

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