Futuro ministro de Bolsonaro compara posse de arma à posse de um carro

Por Alexandro Martello e Fernanda Vivas, G1 e TV Globo — Brasília

 

Futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno comparou neste domingo (30) a posse de uma arma em casa à posse de um automóvel.

Homem de confiança de Bolsonaro e responsável pela estratégia de segurança do futuro presidente, Heleno deu a declaração ao ser questionado em uma entrevista coletiva na tarde deste domingo sobre mensagem na qual o presidente eleito disse na véspera em uma rede social que pretende garantir por meio de decreto a posse de armas de fogo aos cidadãos sem antecedentes criminais.

General Augusto Heleno compara posse de arma à posse de carro
Jornal GloboNews
Segundo o futuro ministro, permitir que um cidadão possa dirigir nas ruas do país é comparável, em questão de responsabilidade, a autorizar alguém a manter uma arma em casa, em razão do perigo potencial que um veículo pode representar nas mãos de alguém sem habilitação.

Ao responder aos repórteres, o futuro ministro do GSI disse que a flexibilização da posse de armas é um tema reiteradamente defendido por Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Heleno destacou ainda que muitos países concedem o direito à posse de armas como uma maneira de o cidadão garantir a defesa da família e da propriedade.

A posse dá ao cidadão o direito de manter a arma em casa. Para sair de casa com a arma, é preciso ter autorização para o porte.

“A posse da arma, desde que seja concedida a quem está habilitado legalmente, e essa habilitação legal virá por meio de algum instrumento, decreto, ou alguma lei, alguma coisa que regule, […] se assemelha à posse de um automóvel”, ponderou o general da reserva.

Dados do Atlas da Violência 2018 – elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – mostram que, entre 2006 e 2016, aumentou 27,4% o número de mortes no país por armas de fogo. Só em 2016, aponta o Atlas da Violência, houve 44.475 mortes por armas de fogo no Brasil.

Por outro lado, o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, registra que, em 2016, o número de mortes no trânsito chegou a 37.345.

Em relação a 2008, quando foi implementada a Lei Seca, houve redução de 2,4% no número de óbitos no trânsito, de acordo com os números do ministério. Naquele ano, foram registrados 38.273 mortes no trânsito.

“Se for considerar isso [número de vítimas de acidentes envolvendo veículos automotores] , vamos proibir o pessoal de dirigir. Ninguém pode dirigir. Ninguém pode sair de casa com o carro, porque alguém está correndo o risco de morrer, porque o motorista é responsável” (General Augusto Heleno)

Estatuto do desarmamento

Desde a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro tem se manifestado favorável à flexibilização da posse de armas de fogo para, segundo ele, garantir o direito à “legítima defesa”. No entanto, o presidente eleito não especificou no plano de governo ou em suas falas quais mudanças pretende fazer no Estatuto do Desarmamento, que regulamenta o acesso às armas de fogo.

Atualmente, o Estatuto do Desarmamento permite a compra e, em condições mais restritas, o porte de armas.

As autorizações para posse e porte de armas são concedidas pela Polícia Federal. As exigências para compra (posse) são as seguintes:

  • Ter ao menos 25 anos
  • Ter ocupação lícita
  • Justificar a “efetiva necessidade” de ter uma arma
  • Não estar respondendo a inquérito policial ou processo criminal
  • Não ter antecedentes criminais nas justiças Federal, Estadual (incluindo juizados), Militar e Eleitoral
  • Comprovar aptidão psicológica e técnica para usar arma de fogo
  • Apresentar foto 3 x 4, cópias autenticadas ou original e cópia de RG e CPF, e comprovante de residência

Além disso, o Estatuto do Desarmamento prevê que a comprovação de antecedentes criminais, inquéritos e processos, de atividade lícita e de capacidade técnica e psicológica seja feita periodicamente em “período não inferior a 5 anos”.

Ensaio para a posse

Em ensaio feito no último domingo (23), figurantes simularam no Rolls-Royce da Presidência o trajeto que será feito por Jair Bolsonaro pela Esplanada dos Ministérios na cerimônia de posse — Foto: TV Globo/Reprodução

Em ensaio feito no último domingo (23), figurantes simularam no Rolls-Royce da Presidência o trajeto que será feito por Jair Bolsonaro pela Esplanada dos Ministérios na cerimônia de posse — Foto: TV Globo/Reprodução

Na tarde deste domingo, o governo realizou na Esplanada dos Ministérios o último ensaio para a cerimônia oficial de posse de Jair Bolsonaro, que ocorrerá na terça-feira (1º). O ensaio se deu sob forte esquema de segurança.

A Esplanada foi fechada para o público na altura da Rodoviária de Brasília, com bloqueio do acesso aos ministérios e à Praça dos Três Poderes. A expectativa do governo é de que entre 250 mil e 500 mil pessoas compareçam à solenidade oficial.

Em meio ao ensaio deste domingo, não foi utilizado o tradicional Rolls-Royce conversível da Presidência da República, fabricado em 1952. No ensaio realizado no domingo passado (23), o cerimonial do Planalto havia usado figurantes no Rolls-Royce para o desfile pela Esplanada.

De acordo com o general Augusto Heleno, a decisão sobre o uso do carro aberto será tomada somente no dia da posse pelo próprio Bolsonaro.

“Critério Jair Messias Bolsonaro. Esse é o critério”, enfatizou o futuro ministro do GSI, reforçando que o próprio presidente eleito decidirá se vai desfilar pela Esplanada dos Ministérios no início da solenidade de posse no carro aberto tradicional da Presidência.

Ao final da entrevista, ao ser indagado por um repórter sobre se recomendaria ao presidente eleito o uso de carro aberto ou fechado, Heleno disse que, se fosse dar esse tipo de recomendação, não seria diante das câmeras.

Acompanhando a coletiva ao lado de Heleno, o atual ministro do GSI, general Sergio Etchegoyen, afirmou aos jornalistas que foi desenhado um plano de segurança inédito para uma cerimônia de posse presidencial em razão de Bolsonaro ter sido vítima de um atentado durante a campanha eleitoral.

“O presidente já sofreu uma ameaça. Uma ameaça não, um atentado. Já sofreu uma agressão, um atentado contra a sua própria vida. Aqui a gente sabe lidar. Vamos criar as condições e, por isso, então, nós temos que aumentar os níveis de segurança e os controles de acesso”, justificou Etchegoyen.

O atual ministro ressaltou ainda que o GSI optou pela “cautela” nos preparativos para a solenidade de posse para assegurar a segurança do futuro presidente.

Figurantes simulam subida da rampa do Planalto em ensaio da posse de Bolsonaro
G1 Política

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